O presidente da Aisin Seiki conversou com o editor da revista Automotive News sobre eletrificação, autonomia e conectividade dos automóveis nos próximos anos.

Para sobreviver no dinâmico mundo do fornecimento de autopeças, o novo presidente do grupo Aisin afirma que a empresa precisa de reformas estruturais. A diretriz da principal afiliada da Toyota, agora, é “descartar e construir”, diz Kiyotaka Ise ao website Automotive News, em reportagem publicada no dia 8 de Outubro de 2018.
Este conceito, explica Ise na sede da empresa, em Kariya, não se trata de destruir fábricas velhas e inaugurar novas no lugar. Mas, sim, descartar antigos produtos que estão tornando-se obsoletos, como transmissões manuais e desenvolver novos, como caixas de câmbio com motores elétricos integrados. O veterano engenheiro da Toyota Motor Co., que conduziu o desenvolvimento da marca de luxo Lexus, e contribuiu para o avenço do setor de P&D da maior fabricante de automóveis do Japão, assumiu o cargo em Junho de 2018 para iniciar um salto na difícil transição da Aisin Seiki para a nova era de veículos carregados de softwares e mobilidade eletrificada.
Ise foi escolhido para o trabalho por compartilhar o “senso de crise”, fomentado por seu antigo chefe, o presidente da Toyota Motor, Akio Toyoda. A Toyota tem 24,8% da fabricante de transmissões e freios e vem reorganizando grupos de fornecedores, incluindo Aisin Seiki e Denso Co., para entregar em novos mercados como conectividade, direção autônoma e eletrificação.
“Eu não vejo tal senso de crise entre os funcionários da empresa”, diz Ise em uma entrevista na sede da empresa, perto de Nagoia. “Todos nós precisamos deste senso de crise”. A Aisin Seiki ainda está competindo com suas rivais no mercado global, lembra o novo presidente.
“Acredito que temos uma dificuldade significativa em ganhar capacidade”.
Os riscos são altos, especialmente para a Aisin Seiki. Durante muitos anos, a empresa baseou sua existência em suprir a Toyota com os principais hardwares, a exemplo de transmissões, freios, e componentes do powertrain. No último ano fiscal (2016), a empresa registrou lucro e rendimento recordes. Mas os tempos estão mudando e a Aisin sabe disso.
Incertezas ameaçam, em parte, devido aos planos da Toyota para ultrapassar as tradicionais máquinas de combustão interna em torno de 2050, como parte do comprometimento em baixar emissões. Ise citou a Eastman Kodak Co como uma história preventiva. A então maior fabricante de filmes fotográficos foi forçada à falência em 2012 por não ter se adaptado rápido o suficiente ao advento das câmeras digitais.
Da mesma forma, a Aisin Seiki precisa de reformas estruturais, “para sobreviver”, diz Ise. “Nós precisamos começar durante os tempos bons, porque reformas estruturais são algo que requerem tempo”.
A eletrificação posa como a única maior ameaça, diz o presidente. Por isso ele planeja uma reviravolta.
“Descartar e construir será a política que tomaremos”, diz Ise. “Se o produto não tem um futuro bom, então ele será candidato ao descarte”.

A Aisin Seiki está revendo suas linhas de produção. E transmissões manuais já estão na tábua de corte, diz o presidente. De fato, a Aisin consolidou sua produção de transmissões manuais para criar espaço para mais caixas de câmbio automático nas fábricas. “O objetivo é liberar recursos chave e focá-los em áreas mais importantes”.
Expandir os 17% de market share da Aisin Seiki no mercado global será o foco principal. A fornecedora procura expandir a capacidade global de caixas de câmbio para 13,2 milhões de unidades por ano, ainda no próximo ano fiscal, que termina em Março de 2020, a partir das 9,8 milhões de unidades ao ano, produzidas no ano fiscal anterior, que terminou em Março de 2017. O crescimento será dirigido por expansão na China, Europa e Japão.
Mesmo conforme a indústria automotiva eletrifica os veículos, o presidente da Aisin Seiki afirma que a companhia pode utilizar seu core business em engrenagens e continuadamente transmissões variáveis até, pelo menos 2030, desenvolvendo novos produtos automotivos que que unem essa tecnologia com motores elétricos.
Portanto, a Aisin Seiki está trabalhando em várias novas ofertas. Um controle de direção elétrica para veículos movidos por bateria e por fuel cell (hidrogênio), como o Mirai. Um eAxle, chassis eletrônico que abastece eletricidade para veículos AWD (all wheel drive) em híbridos e carros elétricos. E uma transmissão para veículos híbridos de grande porte com preço competitivo.
A Aisin Seiki está considerando uma nova transmissão automática para veículos de porte médio que combina os câmbios tradicionais com uma bateria de 48 volts, configurada através de cintas, alternadores e starters.
A companhia está preparando a transmissão para motor híbrido para produção em massa, diz o presidente. A nova caixa de câmbio será entregue primeiro para um fabricante fora do grupo Toyota, ajudando a diversificar as vendas. O grupo Toyota, atualmente, é o destinatário de 58% do rendimento da Aisin Seiki.
Ise negou-se a dar o nome do fabricante. Mas ele disse que cultivar uma base de clientes mais ampla é importante porque isso pressiona a Aisin Seiki a desenvolver produtos mais comopetitivos.
Outra área prioritária daqui em diante será produtos para o corpo do veículo, a exemplo de portas deslizantes. A Aisin tem 60% do mercado mundial nesse segmento, diz Ise, acrescentando que há a expectativa por um explosão da demanda por tal produto na China.
A companhia também planeja investir em novos campos, como sistemas de controle para direção autônoma, pretendendo utilizar sua expertise em suspenções e freios para desenvolver as novas tecnologias.
Ise percebe potencial futuro em sistemas de monitoramento de direção e pacotes de estacionamento automático. A companhia foi a primeira a desenvolver um sistema de estacionamento automático, fornecendo à Toyota.
Aisin Seiki é a número 6 no ranking da revista Automotive News, baseada em Detroit, das 100 fornecedoras de autopeças com vendas globais de 33,84 bilhões de dólares em 2017. Mas, Ise sabe que mesmo uma gigante como a Aisin Seiki não pode confrontar todos os desafios da indústria em transformação sozinha. Este ano, a Aisin juntou-se à Toyota e à Denso para investir 2,8 bilhões de dólares em uma nova empresa joint venture que deve produzir o software necessário para rodar os carros autodirigidos. A Toyota detém 90% das ações da nova empresa, a Toyota Research Institute-Advandced Development (TRIAD), enquanto Aisin e Denso têm 5% cada.
Em Agosto, a Aisin Seiki foi parceira dos outros três fornecedores do grupo Toyota (Denso, empresa de direção JTEKT e fornecedora de freios Advics) na criação de outra joint venture, focada em desenvolvimento de unidades de software de controles eletrônicos integrados (ECU) para direção autônoma. O microchip ECU vai administrar a integração de sensores, freios e direção.
A Aisin formou uma parceria separada com a Denso para desenvolver e vender módulos de controle para direção eletrificada. O pacote do sistema inclui geradores motorizados, inversores e transeixo.
Ao mesmo tempo, a Aisin Seiki junta-se ao grupo de companhias automotivas que procuram parceiros através de seus fundos próprios. A empresa japonesa esbeleceu um fundo de 50 milhões de dólares com a Fenoz Venture Capital, baseada nos Estados Unidos, para escolher empresas de tecnologia de ponta do Vale do Silício.
“A competição torna-se feroz em termos de eletrificação, direção autônoma e carros conectados”, afirma Ise. “E nós não podemos focar apenas em competição de dentro da indústria automotiva, mas também de companhias vindas das indústrias de TI e moveleira.
Fonte: Automotive News
Link do original, em Inglês: http://www.autonews.com/article/20181008/OEM01/181009806/aisin-kiyotaka-president-products